quarta-feira, 18 de março de 2009











ÁGUAS
Manoel Barros


Desde o começo dos tempos águas e chão se amam,
Eles se entram amorosamente
E se fecundam,
Nascem formas rudimentares de seres e de plantas
Filhos dessa fecundação.
Nascem peixes para habitar os rios
E nascem pássaros para habitar as árvores,
Águas ainda ajudam na formação de conchas e dos caranguejos,
As águas são a epifania da Natureza,
Agora penso nas águas do Pantanal
Nos nossos rios infantis
Que ainda procuram declives para correr,
Porque as águas deste lugar ainda são espraiadas
Para o alvoroço dos pássaros.
Prezo os espraiados destas águas com suas
Beijadas garças,
Nossos rios precisam de idade ainda para formar
Os seus barrancos
Para pousar em seus leitos,
Penso com humildade que fui convidado para o
Banquete destas águas,
Porque sou de bugre,
Porque sou de brejo.
Acho que as águas iniciam os pássaros
Acho que as águas iniciam as árvores e os peixes
E acho que as águas iniciam homens,
Nos iniciam,
E nos alimentam e nos dessedentam,
Louvo esta fonte de todos os seres, de todas as
Plantas, de todas as pedras,
Louvo as natências do homem do Pantanal,
Todos somos devedores destas águas,
Somos todos começos de brejos e de rãs,
A fala dos nossos vaqueiros carrega murmúrios
Destas águas,
Parece que a fala de nossos vaqueiros tem consoantes
Líquidas
E carrega de umidez as suas palavras,
Penso que os homens deste lugar
São a continuação destas águas.